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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ainda bem que os humanos são espertos


Golfinho sorrindo no útero materno
"Alguns anos atrás, todos os animais foram embora. Acordamos uma manhã e eles simplesmente não estavam mais lá.
Nem mesmo nos deixaram um bilhete ou  disseram adeus.
Nunca conseguimos saber ao certo  para onde foram.




Sentimos sua  falta.
Alguns de nós pensaram que o mundo tinha se  acabado. Mas não tinha. Só que não  havia mais animais. Não havia mais gatos ou coelhos, cachorros ou baleias, não havia peixes nos mares. Nem pássaros nos céus.

Estávamos sós.




Não sabíamos o que fazer. Vagueamos por aí.

Perdidos por um tempo. E então alguém "muito esperto" observou que, só porque não tínhamos mais animais, não havia motivo para mudarmos  nossas vidas. 



Não havia razão para mudar nossa dieta ou parar de testar produtos que poderiam nos fazer mal. Afinal de contas, ainda haviam  os bebês. 





Bebês não falam. Mal podem se mexer. O bebê não é uma criatura racional, pensante. Fizemos bebês em laboratórios.




E os usamos. Alguns deles:  comemos. Carne  de bebê é tenra e suculenta. 

Esfolamos suas  peles e nos  enfeitamos com  elas. Couro de bebê é macio e confortável. Alguns deles, usamos em testes.




Mantínhamos  seus olhos abertos com fitas adesivas e pingávamos detergentes e shampoos  neles, uma gota   de cada vez. Nós os marcamos e os escaldamos. Nós os queimamos. 


Nós os  prendemos com  braçadeiras e plantamos  eletrodos em seus cérebros. Enxertamos, congelamos e irradiamos.




Os bebês respiravam nossa fumaça e, na veia dos bebês, fluíam nossos remédios e drogas,  até eles pararem de respirar ou até o sangue deles não correr mais. 

Era duro, é claro, mas necessário.  Faz parte da evolução e do progresso. É a lei do mais forte.
Ninguém podia negar isso.


Com a partida dos animais, o que mais podíamos  fazer?

Algumas pessoas reclamaram, claro. São a minoria.  Elas sempre fazem  isso. E tudo voltou ao  normal.


Só que...

Ontem, todos os bebês se foram.


Não sabemos para onde. Nem mesmo os vimos partir.
Não sabemos o que vamos fazer sem eles. Mas pensaremos em algo. 

Humanos são espertos. 
É o que nos faz superiores aos animais e aos  bebês. 

"VAMOS BOLAR ALGUMA COISA"






Retirado do livro "Fumaça e Espelhos - Contos e Ilusões" de Neil Gaiman. 



O autor escreveu essa fábula em benefício da PETA 

(Pessoas em prol do Tratamento Ético dos Animais): 

Falar sobre o desrespeito aos  nossos filhos animais -  "É a única coisa que escrevi que me perturba."  (Neil Gaiman.) 




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