Caminho da Vida ou a Lenda Pessoal - Filosofia Taoísta e Analogia Psicossomática
Para quem quiser saber mais a respeito, *O ALQUIMISTA, clássico de Paulo Coelho, fala de um rapaz espanhol que passa a entender sua vida através da Lenda Pessoal.
Podemos comparar a Lenda Pessoal ao roteiro de um Filme ou ao "livro de rota" dos pilotos de rali atuais. Seguiremos esse caminho usando um veículo particular que vem a ser o nosso corpo físico.
Os orientais nos propõem uma imagem muito interessante para esse veículo e esse Caminho da Vida.
Somos, assim o dizem, como uma charrete, uma Carruagem que representa o nosso corpo físico e que se locomove num caminho que simboliza a vida, ou melhor, o Caminho da Vida. Vejamos até onde podemos levar esta imagem.
O caminho pelo qual se locomove a Carruagem é um caminho de terra. Como todo caminho de terra, inclui buracos, lombadas, pedras, rastros deixados pelas rodas, e valas nas laterais.
Os buracos, as lombadas e as pedras são as dificuldades, os choques da vida. Os rastros são esquemas já existentes que retomamos dos outros e reproduzimos. As valas, mais ou menos profundas, representam as regras, os limites que não devem ser ultrapassados sob pena de acidente. Esse caminho, às vezes, comporta curvas que impedem a visibilidade ou, por outras, atravessa zonas de neblina ou de tempestades.
Essas são todas as fases da nossa vida em que ficamos "no meio do nevoeiro", em que temos dificuldade para ver com clareza ou para conseguir prever algo porque não podemos "enxergar adiante". Essa Carruagem é puxada por dois cavalos, um branco (Yang), que fica à esquerda, e outro preto (Yin), que fica à direita. Esses cavalos simbolizam as emoções, o que nos mostra até que ponto são elas que nos
impulsionam, até mesmo nos conduzem na vida. A Carruagem é conduzida por um Cocheiro que representa o nosso mental, o nosso Consciente. Ela tem quatro rodas, duas na frente (os braços), que fornecem a direção, ou melhor, demonstram a direção dada aos cavalos pelo Cocheiro; e duas atrás (as pernas), que sustentam e transportam a carga (aliás, elas são sempre maiores que as da frente). No interior da Carruagem, há um passageiro que não vemos. Trata-se do Mestre
ou Guia interior de cada um de nós, do nosso Não-Consciente, da nossa Consciência Holográfica. Os cristãos o chamam de "Anjo da Guarda".
Nossa Carruagem pessoal segue, então, no Caminho da Vida, aparentemente dirigida pelo Cocheiro. Digo aparentemente porque, se quem a conduz é ele, na realidade, o passageiro é quem lhe deu a destinação. Nós encontraremos posteriormente uma explicação a respeito ao mencionarmos Céu anterior e o Não-Consciente e sobre as escolhas estabelecidas pelo Shen Pré-natal, mais tarde o Shen (alma ou psiqué)
O Cocheiro, que é o nosso mental, conduz a Carruagem. Da qualidade da sua vigilância e da sua
condução (Firme, porém vagarosa) vão depender a qualidade e conforto da viagem (existência).
Se ele maltratar os cavalos (emoções) e os submeter ao ridículo, esses vão se irritar e, num dado momento, se arrebatar e a condução da Carruagem correrá risco de acidente, da mesma maneira que as nossas emoções, às vezes, nos conduzem a praticar atos desprovidos de qualquer razão e, mesmo, perigosos. Se o condutor estiver relaxado demais, se a vigilância lhe escapar, a atrelagem vai se encaminhar pelo rastro (reprodução dos esquemas parentais, por exemplo) e seguiremos, então, as pistas dos outros, correndo o risco de cair na vala se eles assim o fizeram.
Da mesma forma, se não mantiver vigilância, o Cocheiro também não saberá evitar os buracos, as lombadas, as depressões (golpes, erros da vida) e a viagem será muito desconfortável para a Carruagem, para o cocheiro e para o Mestre ou Guia interior.
Se ele adormecer ou não segurar as rédeas, serão os cavalos (emoções) que dirigirão a Carruagem.
Se o cavalo preto for o mais forte (porque o alimentamos melhor...), a Carruagem vai puxar para a direita e será guiada pelas imagens emotivas maternais. Se for o cavalo branco o que dominar, pois foi mais bem tratado, a Carruagem vai puxar para a esquerda em direção às representações emotivas paternas. Quando o Cocheiro conduzir rápido demais, forçar demais, como às vezes o fazemos, ou se os cavalos se arrebatarem, é a vala, o acidente, que pára com maior ou menor violência a atrelagem e provoca alguns estragos (acidentes e traumatismos). Às vezes, uma roda ou uma peça da Carruagem se solta (doença), seja porque ela era frágil, seja porque passou em cima de muitas lombadas e entrou em muitos buracos (acumulação de atitudes, de comportamentos, inadequados). É preciso, então, fazer o conserto e, de acordo com a gravidade da pane, poderemos fazer o reparo nós mesmos (repouso, cicatrização), chamar um técnico (medicina alternativa, natural) ou, se for ainda mais grave, um mecânico (medicina moderna). Mas, de qualquer forma, seria importante que não nos contentássemos com a troca da peça.
Será de suma importância refletir sobre a condução do Cocheiro e a maneira como vamos mudar nosso comportamento, nossas atitudes em relação à vida, se não quisermos que "a pane" se repita.
Às vezes, a Carruagem atravessa áreas de pouca visibilidade, ou seja, não podemos ver exatamente por onde vamos. Pode se tratar de uma
simples virada. Podemos vê-la e nos preparar para a sua chegada por
antecipação. Devemos, então, reduzir a marcha, descobrir para que lado o caminho vira e seguir a curva, segurando bem os cavalos (dominar nossas emoções quando vivemos uma fase de mudanças, intencional ou não).
Quando há neblina ou tempestade, fica mais difícil conduzir a nossa
Carruagem. Devemos "navegar à vista", diminuindo a marcha e nos
guiando pelas bordas mais próximas da estrada. Nessa fase, devemos ter total, para não dizer "cega", confiança no Caminho da Vida (leis naturais, regras da Tradição, Fé etc.) e no Mestre ou Guia Interior (Não-Consciente) que escolheu esse caminho. Nessas fases da vida é que estamos perdidos
"no meio do nevoeiro" e não sabemos para onde vamos. Nesses momentos, não podemos fazer nada além de deixar a vida nos mostrar a rota. Às vezes, enfim, chegamos a cruzamentos, a bifurcações. Se o
caminho não estiver sinalizado, não sabemos que direção tomar. O Cocheiro (o mental, o intelecto) pode tomar uma direção ao acaso, a risco de se enganar, e mesmo de se perder: é grande. Quanto mais o Cocheiro estiver seguro de si, persuadido de que tudo conhece e tudo domina, mais vai querer saber que direção escolher e, então, mais ainda, o risco será importante. Estamos, pois. no reino da "tecnocracia racionalista", em que a razão e o intelecto crêem poder resolver tudo.
Se ele for, ao contrário. humilde e honesto consigo mesmo. perguntará ao passageiro (Mestre ou Guia Interior) que estrada tomar. Este sabe aonde vai. conhece a destinação final. Poderá indicá-la ao Cocheiro, que a seguirá, contanto que este tenha sido capaz de ouvi-lo. Na realidade, a Carruagem às vezes faz muito barulho enquanto roda e é preciso parar para que se possa dialogar com o Mestre ou Guia Interior.
São as pausas. Os retiros que fazemos para nos reencontrarmos. pois às vezes nos perdemos.
Eis uma imagem simples, mas que representa realmente bem o que é o Caminho da Vida.
Graças a ela poderemos compreender facilmente de que forma as coisas se passam na nossa vida e o que pode fazer com que elas escapem ao nosso controle.
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"Vivemos numa época moderna", diz um conhecido locutor de rádio.
A comunicação e seus meios nunca estiveram tão desenvolvidos, poderosos e "performáticos" como na época em que vivemos. A imagem do homem moderno é a do "executivo dinâmico", sentado atrás da sua mesa do escritório sobre a qual os telefones (convencional e celular), o fax, o "Minitel" (terminal de videotexto) e o microcomputador representam os acessórios do poder de comunicação com o mundo inteiro e a todo instante. No entanto, o quadro está longe de ser tão idílico quanto esse.
Essa comunicação é, de fato, vazia na maioria das vezes e só entretém a sua própria ilusão (quando não é, aliás, praticada de maneira deliberada). Todos esses dispositivos não passam de próteses, de excrescências, compensadoras da nossa incapacidade de ser e de mudar verdadeiramente e que nos deixam enganar cada vez mais, ou então de transcender o nosso medo do outro. A nossa sociedade, a nossa educação e também uma certa facilidade atual nos levaram a procurar a satisfação de nossos desejos através do que nos é exterior. Aprendemos então a gerar, disciplinar, dominar, possuir ou comunicar-nos com esse exterior. Essa corrida desenfreada nos distancia de nós mesmos cada vez mais e nos esvazia do nosso próprio conteúdo.
Basta constatar o sucesso fulminante do "Minitel" ou do correio eletrônico para nos convencermos disso.
Nosso modo de vida atual, a onipresença e o poder soberano da mídia, a armadilha do materialismo, a aceleração permanente do nosso cotidiano nos levaram, pouco a pouco, a confundir vida com existência, vida com agitação, vida com frenesi. Isso ocorreu com o nosso consentimento implícito, até mesmo para satisfazer as nossas exigências. Sempre mais, sempre mais rápido, eis o nosso slogan, o nosso motivo condutor de nossas carruagens em nossa sociedade moderna, mais e mais rápido, com cavalos desenfreados, o preto sempre mais alimentado, um lado da carroça desgastado, sem perguntar para o cocheiro para onde vamos, pegamos os atalhos e apenas vamos correndo nesta frenesi.
Mas para onde vamos e para fazer o quê?
Quem comanda a Carruagem (corpo)? Que Cavalo (emoções) está melhor alimentado?
Será que eles correm desenfreados, cada qual para cada lado?
E o Passageiro (nossa Psiqué, nossa Essência ou alma, se preferirem) - o que dirá se souber que seguimos um rumo veloz e distraído pelas paisagens da estrada?
E o Cocheiro (mente), quantas vezes perdeu o controle dos cavalos ou os alimentou de forma desigual? Quantas vezes não desviou de buracos, tomou atalhos errados, teve pressa ou sobrepujou a charrete a sustentar peso em um lado mais que outro?
As tensões psíquicas, psicológicas, emocionais e por fim, físicas.
PSICOFISIOLOGIA BIODINÂMICA AYURVEDA SENSORIAL - PSICO BAS
Estamos no estágio "normal" de expressão da tensão interior. O Não-Consciente faz uso de uma sensação fisiológica ou psicológica para exprimir o que se passa.
É o passageiro psiqué- O Mestre ou Guia Interior - que bate na janela da Carruagem para fazer sinal e dizer ao Cocheiro que algo não vai bem (caminho errado, condução desconfortável ou perigosa, cansaço,
necessidade de determinar exatamente em que lugar se está etc.). Se a pessoa estiver "aberta", pronta para compreender e aceitar a mensagem no nível do seu Consciente, implementará as mudanças comportamentais
necessárias e as tensões desaparecerão.
Quanto mais o indivíduo houver trabalhado a sua própria pessoa e estiver em coerência consigo mesmo e com as partes mais sutis e mais poderosas de si próprio (Não-Consciente), mais sensível e mais capaz ele será de perceber e receber as mensagens do primeiro tipo e de compreendê-las. Havendo chegado a um certo nível, ele poderá mesmo preveni-las. Infelizmente, temos muita dificuldade em ser receptivos a partir desse nível.
Há numerosas razões para isso, sobretudo a nossa tendência natural para o que é fácil e a nossa cultura, que separa as coisas e faz com que não saibamos mais como uni-las. Assim sendo, desenvolvemos nossa surdez interior. Este primeiro nível de mensagens é, no entanto, riquíssimo e não é o único. Numerosos sinais também chegam até nós, vindos do nosso meio ambiente, particularmente através do que chamamos de "efeito espelho". Retomarei esse assunto mais adiante.
Para poder se fazer ouvir, o nosso Não-Consciente às vezes também recorre aos dois outros tipos de mensagens, os traumatismos e as doenças.
Devido à preocupação e à necessidade de eficiência, ouso dizer que esses tipos são visivelmente mais fortes e percussores. Eles apresentam um segundo inconveniente que não deve ser negligenciado no que diz respeito às mensagens mais diretas.
Os traumatismos e as doenças nunca coincidem no tempo quando o problema é a origem da tensão. Esse desajuste é proporcional à nossa surdez, à nossa incapacidade de entender as mensagens. Talvez isso se deva à existência de uma sensibilidade extrema que os tomaria mais fortes ou simplesmente à nossa recusa em mudar. O desajuste é mais importante para a doença do que para o traumatismo. E é ainda maior quando se trata da tensão, ou melhor, sua significação é "recusada" especialmente porque esta atinge zonas de sensibilidade muito fortes no indivíduo. Quando ela está relacionada aos pontos-chave da pessoa, seus efeitos chegam mesmo a se manifestar nos planos do consciente em mensagens, atos falhos e simbologias, ou mantém-se no subconsciênte em manifestações relacionais diferentes.
DIZ A LENDA
Os traumatismos do corpo e dos membros
Eles representam o segundo modo de comunicação. Trata-se nessecaso de um segundo estágio na escala das mensagens. Na verdade, representam uma fase em que o indivíduo busca uma solução por meio de
seu Não-Consciente. O traumatismo é, então, uma expressão ativa, partindo do princípio que representa uma tentativa dupla por parte da pessoa que o vivencia. É, antes de tudo, uma nova mensagem, mais enfática do que o tipo anterior mas, apesar de tudo, ainda é um modo de comunicação aberto.
O Mestre ou Guia Interior bate bem mais forte na janela e chega mesmo a quebrá-la para fazer bastante barulho e assim obrigar o Cocheiro a escutála. Este estágio pode ainda admitir uma mudança direta da situação em questão, pois aparece durante o processo de densificação ou de liberação das energias. Porém, ainda não significa que deveremos passar por uma reprodução de esquemas, contanto que "acusemos recepção". Seu destino é dar um intervalo para a pessoa, obrigá-la a deter momentaneamente suadinâmica não adaptada para compreender e mudar.
Mas o traumatismo também é uma tentativa ativa de estimulação ou de liberação de energias tensionais que se acumularam em função da distorção interior das pessoas. É por essa razão que nada se produz no
corpo a esmo. O choque, o corte, a entorse, a fratura etc. vão surgir num ponto bem preciso do corpo físico, a fim de estimular as energias que circulam nesse ponto ou de expulsar o bloqueio de energias desse ponto, às vezes até os dois últimos ao mesmo tempo. Assim sendo, ele nos fornece informações de uma precisão extrema sobre o que se passa dentro de nós.
Torcer o tornozelo direito ou cortar o polegar esquerdo, deslocar a terceira cervical ou bater com a cabeça, cada um, por sua vez, vai determinar o que não vai bem.
Um dia, durante um dos meus seminários, eu expunha essa idéia e dava exemplos. A um certo momento, falava dos problemas no joelho e explicava que esses denotavam problemas de tensões relacionais com os
outros e, em particular, dificuldade em proferir, ceder, aceitar algo ligado a essa relação com o outro.
Obtive uma gigantesca gargalhada como resposta.
Dirigi-me então à pessoa que acabara de expressar o seu desacordo dessa forma e lhe perguntei o que havia de tão engraçado no que acabara de dizer. Esse homem me respondeu que havia tido uma entorse num joelho dois anos antes, simplesmente porque disputava uma partida violenta de futebol e porque havia chutado a bola ao se virar. Não havia então, nesse caso, nada a ser compreendido senão o fato de que no esporte, entre outras situações, podemos nos ferir por acaso. Então, eu lhe perguntei simplesmente qual
joelho havia ferido. O direito, respondeu-me. Eu lhe propus então que refletisse sobre o assunto e checasse se, na época, não vivia algum tipo de tensão relacional conflitante com uma mulher, diante da qual ele se recusava a proferir alguma coisa. Depois, não querendo estender o assunto, simplesmente retomei outra coisa, sem lhe pedir resposta.
Durante a meia hora que se seguiu, percebi que ele refletia, procurava e aí, de repente, sua face começou a empalidecer brutalmente. Fiz uma interrupção para lhe perguntar o que estava acontecendo. Ele compartilhou então o que acabara de lembrar com todo o grupo. Na véspera do jogo, havia recebido a carta oficial de pedido de divórcio da sua esposa, com a qual vinha vivendo em conflito durante vários meses. Tratava-se de um divórcio que ele se recusava a aceitar.
Os traumatismos são ativos porque se manifestam no Yang; estão geralmente relacionados às partes do corpo que pertencem ao exterior, como os membros, a cabeça, o busto. Agem também no nível das energias defensivas que circulam principalmente na superfície do corpo. a lugar ferido vem a ser uma informação essencial para que haja compreensão, mas a lateralidade faz com que essa compreensão se torne ainda mais clara.
Uma entorse no punho tem um significado global, mas o fato de se tratar do direito ou do esquerdo vai tornar essa significação ainda mais precisa. É preciso saber que quanto mais forte for a tensão ou quanto mais tempo durar sem ter sido "percebida", mais chances o traumatismo tem de ser algo importante, e mesmo violento. Ele não se torna menos "positivo", ou seja, ativo, mesmo que leve ao acidente mortal, tendo em vista que representa uma tentativa, às vezes extrema, de ação, de eliminação, de mudança das coisas. Está claro então que ele deverá ser compreendido e, se necessário, tratado dentro dessa compreensão. Caso contrário, corremos o risco de impedir uma busca de solução que poderia vir a ser vital.
O estágio fratura, lesão, doença psicofisiológica (corpo e mente), alergia, medos, fobias, etc; é quando o Mestre Interior vai fazer com que a Carruagem enguice para obrigar o Cocheiro a parar. Essa eliminação, mesmo que carregue um significado, força essa parada e não admite mais uma mudança direta. Ela aparece ao final do ciclo de densificação ou de liberação. Quando este não se desenvolveu totalmente ou completamente e quando a nossa "teimosia" cristalizou, fixou as coisas dentro de nós.
Assim, vai ser obrigatório passar pela reprodução de esquemas, de experiências. Pela experiência vivida novamente, para integrá-la e, se possível, mudar a memória da sua Consciência Holográfica, ou seja, mudar o andar da Carruagem que deverá seguir seu rumo inicial.